segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Domingo foi a festa de Oxalá, no Ilê Axé Oba Nire, Terreiro de Zé Raimundo de Ogum, Festa bonita, organizada como muito capricho, comida a vontade e o principal, muito Axé! Lembrei logo de meus amigos Edvaldo e Antero, que fizeram esses comentários. A dança de “Zé Raimundo” é vigorosa, todos não se cansam de falar da beleza do seu Ogum dançando, ontem foi a vez de Jura, meu pai, “quanta energia, não sei como ele agüenta!”, Jura não conhece as coisas do candomblé,  “é homem de budismo”, não acredita em Deus como os cristãos. Foi na festa porque gostou muito de Zé, ajudou na reforma do telhado do barracão e da casa de Oxalá. Como ele estava viajando, durante as festas de janeiro e fevereiro fiz questão de levar ele na de Oxalá, que era a última. Não precisava nem que eu levasse, pois Jura, em seus quase oitenta anos, não é homem que precise de ninguém pra levar ele a lugar algum. Mas como fui eu quem o leveu ao terreiro de Zé, pela primeira vez, na época das reformas, quis fazer as honras de leva-lo para a primeira festa. Tudo começou porque eu não podia acompanhar a obra por conta do meu trabalho. E é com esse axé que escrevo o primeiro texto do meu blog.

Dessa história vai render muita coisa, novas possibilidades se abrem para nossas vidas quando nos livramos de apegos mesquinhos. Estou falando da minha saída da Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia. É sempre muito delicado e ao mesmo tempo rico e complexo analisar o contexto dos momentos de inflexão em nossas vidas. Projetos ficam para traz dando espaço para outros que estão fila a muito mais tempo... O sentimento de dever como servidora pública, misturado à meu temperamento altivo e dinâmico me fez impulsionar algumas coisas que me creditaram reconhecimento, mas também anteciparam questões que ainda não encontraram ambiente para florescer. Sem equipe e sem apoio, muito pouco pode ser feito. Sou grata pela oportunidade que foi dada, mas fico por aqui! Como ninguém é salvador da pátria, ninguém mesmo... vamos para frente.

O assunto da hora é reestruturação do sistema ambiental. Sobre isso, tenho total convicção que o projeto que se desenha para a gestão ambiental no Estado tem suas virtudes e que pessoas valorosas o estão capitaneando, porque na terra de meu Deus, todos têm seu valor, basta ter espaço para usar. Mais pessoas precisam assistir Invictus, o filme, e entender a experiência de Mandela no Poder. Mas também tenho a percepção de que em nome de um projeto de desenvolvimento econômico para a Bahia e até certo ponto “social”, pois nesse aspecto tenho minhas ressalvas, a dita reestruturação do sistema de Meio Ambiente do Estado está sendo formulado com algumas vulnerabilidades em sua base de sustentação.

Não preciso dizer o óbvio, que conservação ambiental é perfeitamente conciliável com desenvolvimento e vou direto ao assunto em questão. Em relação a reestruturação do Sistema de Meio Ambiente do Estado da Bahia destaco as seguintes questões: 1. acredito que deva ser revista a forma como vem sendo apresentada a reestruturação esclarecendo que muita coisa é continuidade da reforma de 2009, que não pôde ser feita a época; 2. Ter cautela em relação à crítica que se faz à gestão do primeiro mandato, em ter tido muita discussão, como alerta para agora não inverteu para o extremo oposto, de ausência de discussão. A primeira apresentação da proposta aos órgãos do sistema IMA e INGÀ, foi feita há menos de uma semana de ser encaminhada à Assembléia Legislativa, prevista para 15 de fevereiro; 3. Os órgãos tem suas culturas, seu pessoal, é necessário um cuidado no mínimo profissional para essas mudanças, antes mesmos que elas iniciem e não depois. Um bom começo é entender como ocorreu nos outros estados.; 4. Rever a fundamentação da reestruturação pautada na agilização de licenças, pois essa motivação não sustenta uma reestruturação desse porte, o sistema ambiental é composto por uma diversidade de instrumentos de controle, gestão, proteção, ativos, educação ambiental, mecanismos econômicos, etc, e a solução para isso pode ser por integração dos órgãos, dos sistemas ou fusão. Estão optando pela fusão, será a melhor?

Muitos outros aspectos da reestruturação devem ser devidamente abordados pelo no espaço adequado para isso, como a retirada das licenças no Conselho Estadual de Meio Ambiente- CEPRAM, a integração do sistema de meio ambiente com o sistema de recursos hídricos que merecem um aprofundamento muito maior, aqui estou apenas expressando minhas inquietações reprimidas. Falo isso porque o trabalho no licenciamento ambiental, amplia muito a  visão profissional e de mundo, instrumentaliza para a  conciliação de conflitos, planejamento, estratégia, previsão de impactos e apesar de todo stress no meu caso me inspirou muito também. A tela postada nesta página é a prova disso.Esse foi um processo inesquecível. Espero que quem leia esse blog, saiba considerar o espaço de reflexão amorosa que ele permite.

Bem, estas reflexões só puderam ser compartilhadas mais livremente agora, são ligeiras, mas de quem vivencia o problema. Agora coloco essa energia em outros projetos e continuo cumprindo meu dever de servidora pública de forma decente e disciplinada, no espaço e no tempo que me cabe. Nos próximos textos falarei um pouco mais dos futuros  projetos. Tem muito a ver com o início do texto...

Estamos todos do mesmo lado, o lado da solução, o lado da melhoria do sistema ambiental, não do só do Sistema Ambiental do Estado, mas do ambiente efetivamente, com governo, técnicos, políticos, pequenos e grandes produtores e consumidores, águas, florestas, solo, elementais e tudo que a Grande Mãe Natureza comporta.

Por isso peço paz para todos e tudo.

Ana Cordeiro

Salvador, 13 de fevereiro de 2011

Um comentário:

  1. Belíssima escrita, Ana. Estou orgulhosa de ti. Já sou seguidora, amiga minha...
    Muac!
    Joice Worm

    ResponderExcluir